15 de junho de 2007

Segunda matéria para o Revela





Esmar e os bilhetes






Uma profissão simples e digna torna o vendedor do centro de Uberaba uma figura pública











Graziella Tavares
3° período de Jornalismo

Uberaba é uma cidade cheia de figuras populares. Todos com uma peculiaridade. Algumas vezes, o que faz uma pessoa tornar-se conhecida na sua comunidade é o carisma e a humildade que transmite. Este é o caso do nosso próximo personagem, o vendedor de bilhetes da Loteria Federal, Esmar Gonçalves Beirito, o popular “vendedor da porta do Banco do Brasil”.
Quem passa pelo centro da cidade, todos os dias, não pode deixar de notar que seu Esmar está sempre ali sentado nas escadas do banco com seus bilhetes. Também não é de admirar: seu ponto de vendas é bem estratégico. São vinte e três anos trabalhando nesse mesmo lugar e acompanhando as mudanças no comércio, na sociedade e até na estrutura da cidade. A conversa ajuda a descobrir um homem de 52 anos de idade, totalmente ativo e que jamais teve outra profissão a não ser a de vendedor de loteria. E com muito orgulho.
Esmar é aposentado e completa sua renda mensal com as vendas. Mesmo com um problema físico no braço e sem uma das pernas, ele afirma que nada o atrapalha. “Acostumei com esse trabalho. Venho pra cá de carro com um vizinho lá pelas nove horas da manhã e, depois, volto pra casa com ele por volta das oito da noite. É bom. Não reclamo de nada, mesmo ficando aqui todo dia.” O vendedor mora sozinho no bairro Fabrício. Nunca se casou e tem apenas um parente na cidade, o seu irmão. Nasceu em Conceição das Alagoas e veio para Uberaba ainda jovem. Desde então, dedica-se ao que faz.
Apesar do jeito reservado e desconfiado, Esmar conquistou a simpatia das pessoas. Seus clientes são fiéis e ele ressalta que a população gosta de apostar na sorte; por isso é que vende tantos bilhetes. Todo santo dia um senhor chamado Reynildo passa pelo centro às cinco e meia da tarde e sempre compra seus bilhetes. Reynildo acredita que o vendedor é um homem de confiança, mas em compensação nunca trouxe sorte no jogo. “Ele é o maior pé frio. Eu aposto sempre na loteria, mas se fosse depender dele, nunca ganharia. E o pior é que o cara só tem um dos pés (risos)”. Os dois riem do comentário enquanto ele paga mais um bilhete. “Conheço esse camarada há muitos anos e posso dizer, com certeza, que é uma ‘figura’ mesmo esse Esmar”.

Horários “sagrados”
Mesmo aos sábados, seu Esmar fica no centro até às seis horas. Seus horários são sagrados. Nem um minuto a mais nem a menos. “Olha, o pessoal só vai me encontrar aqui nesse horário: de segunda a sexta, das nove às oito; e aos sábados, das nove às seis da tarde. Depois vou pra casa e só no outro dia”. Ele faz questão de dizer que nunca foi assaltado e nem mesmo sofreu qualquer tipo de preconceito ou agressão. Tanto os funcionários do banco quanto aqueles que fazem sempre o mesmo caminho pelo centro afirmam que o vendedor nunca trouxe problemas para ninguém. “Ele está trabalhando como qualquer pessoa. Não importa onde ele fica ou o que vende. O importante é que é um homem honesto e supera todas as dificuldades. Realmente é uma figura popular da nossa cidade”, confirma a aposentada Euripa Gomes, que trabalhou durante muito tempo no centro.
Além do caráter, o que destaca nossa personagem é a força de vontade que Esmar tem para sair de casa, todos os dias, e ganhar a vida de um jeito simples. Também é isso que faz uma figura pública: humildade e dignidade, que não faltam em Esmar.