20 de dezembro de 2007

Curso de Farmácia da Uniube completa 10 anos

Para comemorar mais uma data, alunos receberam o seu primeiro diretor


Graziella Tavares
4° período de Jornalismo

A Universidade de Uberaba recebeu a visita do Farmacêutico, Marcos Antônio Santana, na comemoração dos 10 anos da implantação do curso de Farmácia, realizada nos dias 5 e 6 de novembro. Aproveitando a visita, Santana participou de palestras e debates sobre a atuação do profissional em setores como comércio, indústria, pesquisa e educação.
O curso foi aberto em 1997 e o quinto fundado em Minas Gerais. Na época, existiam apenas 50 cursos disponíveis em todo o país que, segundo Santana, somam hoje mais de 140. O farmacêutico explica que o desenvolvimento das instalações e da estrutura do curso dentro da Uniube nos últimos anos contribuiram para uma maior capacitação profissional dos alunos. "É importante voltar aqui é constatar que o curso prosperou. Fico feliz em ver todo esse envolvimento de alunos e professores". Ele fala também sobre a importância da qualificação e do esforço dos futuros farmacêuticos na carreira, afinal esse é um campo de muitas oportunidades. "Só não trabalha quem não quer. A profissão é ampla, mas exige investimento. Por isso há tantos cursos oferecidos e poucos profissionais capacitados", salienta.



24 de outubro de 2007

Cidadania e Direitos

Entrevista com André Del Negri, professor do Curso de Direito da Universidade de Uberaba, realizada no dia 27/09/07


Cidadania. Mais uma palavra que aprendemos nos bancos escolares, lá na quinta, sexta, sétima série do ensino fundamental. Mas será que entendemos realmente o seu significado? Segundo Dalmo Dallari*, “a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”. Se a maioria das pessoas não conhece nem mesmo seus direitos básicos, enquanto cidadão, fica ainda mais difícil incorporar o termo ao nosso dia-a-dia. Para esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto conversamos com o professor do curso de Direito da Universidade de Uberaba, André Del Negri.

Há uma pergunta que a maioria tenta responder, mas ainda não entende completamente o seu significado. O que é cidadania?

Percebe-se aí que para responder essa pergunta você precisa ter uma série de implicações. Porque não é tão simples ou ao menos não tem sido o que o pessoal tem falado por aí, fora de um ambiente universitário como o nosso, para um esclarecimento maior do que seja isso. Eu não posso falar de cidadania se eu não falar de democracia. Seria uma irresponsabilidade enorme, então já começa por aí. Porque o exercício da cidadania vai ser também uma implementação da democracia. Talvez o maior equívoco que andam cometendo é enxergá-la —a cidadania— exatamente como se fosse o veículo exauriente do voto. Você votou, você já é cidadão. E não é isso. A democracia não se define só no voto. Ele, aliás, é uma fração miníma do exercício democrático. Ninguém pode dizer que só porque tem certidão de nascimento, título de eleitor já é um cidadão, pelo menos como tem enunciado os comerciais do governo federal. Esses são alguns documentos, talvez não os mais importantes pois, se for analisar o voto no Brasil, pelo âmbito da democracia, nem poderia ser obrigatório. Então se as pessoas enxergam a cidadania como ser portador de uma série de direitos fundamentais, não só o eleitoral, elas começam a compreender o seu significado.

E como ser realmente um cidadão?

Você só vai se ver como cidadão ou cidadã quando participar da construção e reconstrução do seu ordenamento jurídico, que lhe assegura alguns direitos indispensáveis. Se você tiver condições, num país, de participar, reconstruir, reivindicar aquilo que já está assegurado na Constituição Federal e outras legislações também, você está exercitando a cidadania e, logo, está implementando a democracia. Assim é que podemos começar, rompendo com essa mítica de que a cidadania só é exercida pelo voto. E quem vota ou deixa de votar também não pode ser condenado como sendo ou não cidadão.

Porque não votou não é cidadão…

Exatamente. É muito mais do que isso. É ter acesso a educação, saúde, emprego, uma série de implicações asseguras pela Constituição do seu país. E quando você tem esse acesso fica mais fácil exercitá-la. Mas as pessoas estão fixadas naquela primeira concepção de que apenas votando já é o suficiente.

Mas o Brasil tem um número altíssimo de analfabetos. Como essas pessoas vão garantir seus direitos se não podem ler nem escrever?

Em dados atualizados, me parece que são 75 milhões de analfabetos funcionais, aqueles que lêem e escrevem mais ou menos e não interpretam quase nada. Fora também os analfabetos plenos que são de 15 a 17 milhões, segundo dados do IBGE. Então é óbvio que essas pessoas já estão numa situação de marginalização, estão a margem dos seus direitos. Porque você só pode reivindicar aquilo que você compreende. Veja, o projeto de democracia está no livro da Constituição Federal do nosso país e quem vai tocá-lo para frente somos nós, integrantes desse sistema jurídico. Se existem pessoas que não sabem operacionalizar esse sistema, consequentemente, não vão conseguir reivindicar. Mas ai é que entra a democracia. Devem existir instituições que representem aqueles que por si só não tem condições. Por exemplo, o Ministério Público, a OAB com seus conselhos de representatividade dos direitos humanos, os parlamentares também deveriam fazer isso, às vezes não fazem, mas todas essas instituições estão incubidas de inclui-los socialmente.

Por esse motivo, de não conhecer ou não ter acesso a esses direitos, as pessoas deixam de reivindicar um melhor esclarecimento daquilo que poderia contribuir para suas vidas?

Juntando os números de analfabetos plenos, funcionais ou que chegam a universidade, talvez essa realidade seja explicada por aí. Poucos se envolvem com essas questões, as pessoas estão esperando as coisas acontecerem. A maioria se pôs apenas como destinatário disso tudo e ainda está esperando. Só que nós é que devemos ser os co-autores para fazer as coisas se emplementarem. Se algo está "lacrando" o exercício dos seus direitos você deve ir a um espaço especial, que é o espaço do judiciário. Fazer carreatas, protestos ou manifestções é uma pressão social, mas se quiser realmente resolver a situação é preciso discutir com as vias adequadas, de eficiência máxima, que garantirão o que já está estabelecido por direito. Ação popular qualquer um pode propor, mas poucos sabem como isso é feito. Aí é óbvio que o Ministério Público é que deveria fazer por quem quer ou até mesmo por quem não quer. O problema mais sério é a falta de educação e, consequentemente, a falta de esclarecimento.

Com tantos problemas, falta de esclarecimento, de educação adequada e de ação por parte da população, não dá pra apontar um culpado?

Não dá para dizer onde começaram os problemas. Nosso país é um país novo, com 500 anos. Os professores da Federal do Rio de Janeiro disseram que o Brasil só terá um equilíbrio social daqui a 300 anos. Então não há uma solução imediata. E fica díficil quando o povo não têm educação. O livro da Constituição Federal diz que "todos os cidadãos têm direito a um exemplar gratuito da mesmo". Tudo bem, então presume-se que todos saibam ler. Mas não é o que acontece. Já é outro agravante que deveria ser revisto pelo Ministério. Nós estamos dizendo aqui que a representatividade dos excluídos pelas funções públicas estatais resolvem os problemas. Mas as vezes não resolvem porque os próprios integrantes dessas funções não estão ainda adaptados para trabalhar num marco teórico, que é o Estado do direito democrático. E a pretexto de resolver eles criam outros problemas.

E como resolver isso?

Seria todos voltando para os bancos escolares para receber orientação de profissionais que despertem, de fato, esclarecimento. Só que a situação é muito delicada porque a implementação de tudo o que eu falei, moradia, educação e etc, dependeria de um crescimento maior da nossa economia. Hoje milhões de pessoas precisam do bolsa família e o critério do Banco Mundial para dizer quem é miserável é quem vive com até dois dólares por dia. Nós temos 9 milhões de famílias brasileiras que precisam dessa bolsa e se cotizarmos isso, por dia, dá exatamente o que o Banco trabalha para dizer quem é pobre quem é miserável. Não adianta, para melhorar a qualidade de cidadania desse povo é preciso um direito econômico maior — que é diferente de economia, porque se preocupa com a maneira como o capital acumulado vai ser cotizado, distribuído nos diversos programas de inclusão social. Então essa melhora terá que passar por uma série de implicações. Sérgio Buarque de Holanda diz em seu livro, Raízes do Brasil, que nós precisamos criar raízes e que só vamos mudar a realidade do Brasil por gerações. Nós herdamos essa herança maldita. E ela não será desfeita agora, com a ilusão de que um presidente, em quatro anos, irá resolver essa situação. O que eles, os presidentes, apresentam são projetos políticos para chegar ao executivo e não para mudar essa cena caótica. Por isso temos que trabalhar para a geração dos nossos filhos e netos, e quando eu falo dos professores da Federal com relação aos 300 anos para o equilíbrio, é verdade, ainda vai demorar muito tempo, várias gerações.

* DALLARI, Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p.14.


Cidadania e Direitos

Entrevista com André Del Negri, professor do Curso de Direito da Universidade de Uberaba, realizada no dia 27/09/07


Cidadania. Mais uma palavra que aprendemos nos bancos escolares, lá na quinta, sexta, sétima série do ensino fundamental. Mas será que entendemos realmente o seu significado? Segundo Dalmo Dallari*, “a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”. Se a maioria das pessoas não conhece nem mesmo seus direitos básicos, enquanto cidadão, fica ainda mais difícil incorporar o termo ao nosso dia-a-dia. Para esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto conversamos com o professor do curso de Direito da Universidade de Uberaba, André Del Negri.

Há uma pergunta que a maioria tenta responder, mas ainda não entende completamente o seu significado. O que é cidadania?

Percebe-se aí que para responder essa pergunta você precisa ter uma série de implicações. Porque não é tão simples ou ao menos não tem sido o que o pessoal tem falado por aí, fora de um ambiente universitário como o nosso, para um esclarecimento maior do que seja isso. Eu não posso falar de cidadania se eu não falar de democracia. Seria uma irresponsabilidade enorme, então já começa por aí. Porque o exercício da cidadania vai ser também uma implementação da democracia. Talvez o maior equívoco que andam cometendo é enxergá-la —a cidadania— exatamente como se fosse o veículo exauriente do voto. Você votou, você já é cidadão. E não é isso. A democracia não se define só no voto. Ele, aliás, é uma fração miníma do exercício democrático. Ninguém pode dizer que só porque tem certidão de nascimento, título de eleitor já é um cidadão, pelo menos como tem enunciado os comerciais do governo federal. Esses são alguns documentos, talvez não os mais importantes pois, se for analisar o voto no Brasil, pelo âmbito da democracia, nem poderia ser obrigatório. Então se as pessoas enxergam a cidadania como ser portador de uma série de direitos fundamentais, não só o eleitoral, elas começam a compreender o seu significado.

E como ser realmente um cidadão?

Você só vai se ver como cidadão ou cidadã quando participar da construção e reconstrução do seu ordenamento jurídico, que lhe assegura alguns direitos indispensáveis. Se você tiver condições, num país, de participar, reconstruir, reivindicar aquilo que já está assegurado na Constituição Federal e outras legislações também, você está exercitando a cidadania e, logo, está implementando a democracia. Assim é que podemos começar, rompendo com essa mítica de que a cidadania só é exercida pelo voto. E quem vota ou deixa de votar também não pode ser condenado como sendo ou não cidadão.

Porque não votou não é cidadão…

Exatamente. É muito mais do que isso. É ter acesso a educação, saúde, emprego, uma série de implicações asseguras pela Constituição do seu país. E quando você tem esse acesso fica mais fácil exercitá-la. Mas as pessoas estão fixadas naquela primeira concepção de que apenas votando já é o suficiente.

Mas o Brasil tem um número altíssimo de analfabetos. Como essas pessoas vão garantir seus direitos se não podem ler nem escrever?

Em dados atualizados, me parece que são 75 milhões de analfabetos funcionais, aqueles que lêem e escrevem mais ou menos e não interpretam quase nada. Fora também os analfabetos plenos que são de 15 a 17 milhões, segundo dados do IBGE. Então é óbvio que essas pessoas já estão numa situação de marginalização, estão a margem dos seus direitos. Porque você só pode reivindicar aquilo que você compreende. Veja, o projeto de democracia está no livro da Constituição Federal do nosso país e quem vai tocá-lo para frente somos nós, integrantes desse sistema jurídico. Se existem pessoas que não sabem operacionalizar esse sistema, consequentemente, não vão conseguir reivindicar. Mas ai é que entra a democracia. Devem existir instituições que representem aqueles que por si só não tem condições. Por exemplo, o Ministério Público, a OAB com seus conselhos de representatividade dos direitos humanos, os parlamentares também deveriam fazer isso, às vezes não fazem, mas todas essas instituições estão incubidas de inclui-los socialmente.

Por esse motivo, de não conhecer ou não ter acesso a esses direitos, as pessoas deixam de reivindicar um melhor esclarecimento daquilo que poderia contribuir para suas vidas?

Juntando os números de analfabetos plenos, funcionais ou que chegam a universidade, talvez essa realidade seja explicada por aí. Poucos se envolvem com essas questões, as pessoas estão esperando as coisas acontecerem. A maioria se pôs apenas como destinatário disso tudo e ainda está esperando. Só que nós é que devemos ser os co-autores para fazer as coisas se emplementarem. Se algo está "lacrando" o exercício dos seus direitos você deve ir a um espaço especial, que é o espaço do judiciário. Fazer carreatas, protestos ou manifestções é uma pressão social, mas se quiser realmente resolver a situação é preciso discutir com as vias adequadas, de eficiência máxima, que garantirão o que já está estabelecido por direito. Ação popular qualquer um pode propor, mas poucos sabem como isso é feito. Aí é óbvio que o Ministério Público é que deveria fazer por quem quer ou até mesmo por quem não quer. O problema mais sério é a falta de educação e, consequentemente, a falta de esclarecimento.

Com tantos problemas, falta de esclarecimento, de educação adequada e de ação por parte da população, não dá pra apontar um culpado?

Não dá para dizer onde começaram os problemas. Nosso país é um país novo, com 500 anos. Os professores da Federal do Rio de Janeiro disseram que o Brasil só terá um equilíbrio social daqui a 300 anos. Então não há uma solução imediata. E fica díficil quando o povo não têm educação. O livro da Constituição Federal diz que "todos os cidadãos têm direito a um exemplar gratuito da mesmo". Tudo bem, então presume-se que todos saibam ler. Mas não é o que acontece. Já é outro agravante que deveria ser revisto pelo Ministério. Nós estamos dizendo aqui que a representatividade dos excluídos pelas funções públicas estatais resolvem os problemas. Mas as vezes não resolvem porque os próprios integrantes dessas funções não estão ainda adaptados para trabalhar num marco teórico, que é o Estado do direito democrático. E a pretexto de resolver eles criam outros problemas.

E como resolver isso?

Seria todos voltando para os bancos escolares para receber orientação de profissionais que despertem, de fato, esclarecimento. Só que a situação é muito delicada porque a implementação de tudo o que eu falei, moradia, educação e etc, dependeria de um crescimento maior da nossa economia. Hoje milhões de pessoas precisam do bolsa família e o critério do Banco Mundial para dizer quem é miserável é quem vive com até dois dólares por dia. Nós temos 9 milhões de famílias brasileiras que precisam dessa bolsa e se cotizarmos isso, por dia, dá exatamente o que o Banco trabalha para dizer quem é pobre quem é miserável. Não adianta, para melhorar a qualidade de cidadania desse povo é preciso um direito econômico maior — que é diferente de economia, porque se preocupa com a maneira como o capital acumulado vai ser cotizado, distribuído nos diversos programas de inclusão social. Então essa melhora terá que passar por uma série de implicações. Sérgio Buarque de Holanda diz em seu livro, Raízes do Brasil, que nós precisamos criar raízes e que só vamos mudar a realidade do Brasil por gerações. Nós herdamos essa herança maldita. E ela não será desfeita agora, com a ilusão de que um presidente, em quatro anos, irá resolver essa situação. O que eles, os presidentes, apresentam são projetos políticos para chegar ao executivo e não para mudar essa cena caótica. Por isso temos que trabalhar para a geração dos nossos filhos e netos, e quando eu falo dos professores da Federal com relação aos 300 anos para o equilíbrio, é verdade, ainda vai demorar muito tempo, várias gerações.

* DALLARI, Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p.14.


1 de outubro de 2007

Texto de Carolina Caetano da apresentação no JMB

O texto será apresentado nos dias 5 e 6 de outubro, às 20:30hs no Teatro José Maria Barra. Confiram em primeira mão.

Do tento e outra bobagem
(Carolina Caetano)

São guarda-sóis cravados na areia
E o regaço de idéia contida Debruçado o corpo em sofismas
Pois que são só guarda-sóis e areia
E guarda-sóis não pensam em nada
São entrelinhas e transições
E o abrigo dos meios-termos
Estancado o corpo em abismos
Pois que são só entrelinhas e meios
E transições não levam a nada
São copos sujos na escrivaninha
E a aldeia das cartas tácitas
Pairado o corpo em intentos
Pois que são só papéis e copos
E devaneios não intentam nada
São cobertas vazias na noite
E o retiro dos pêlos arrepiados
Desnutrido o corpo na ausência
Pois que são só quartos e noites
E cobertas não aquecem nada
São estrangeiros cravados em terra a nação de anseios infantis
Norteado o corpo em caos
Pois que são só guarda-sóis em teu peito
E amor não sossega por nada

21 de setembro de 2007

Quarta matéria para o Revela



Uberaba em alerta

Má alimentação e falta de exercícios físicos levaram os habitantes da cidade um índice alarmante de doenças como diabetes, obesidade e hipertensão arterial


Graziella Tavares
4º período de Jornalismo

Uma pesquisa coordenada pela endocrinologista e professora da Universidade de Uberaba (Uniube), Fernanda Oliveira Magalhães, apurou dados assustadores sobre a saúde da população adulta uberabense. De acordo com os dados, 60% dos habitantes entre 30 e 69 anos de idade estão acima do peso, metade sofre de hipertensão e um terço corre riscos devido às taxas de diabetes. Isso porque mantêm uma péssima alimentação e não fazem exercícios físicos, nem no trabalho.
A história dessa pesquisa começou em 1995, quando os cientistas da universidade se dispuseram a avaliar o índice de diabéticos na cidade. Dez anos depois foi montada a Liga de Diabetes da Uniube e, assim, houve a necessidade de fazer uma investigação mais aprofundada, a fim de que fossem verificados, também, os índices de hipertensão arterial e obesidade, entre outros dados. “O último censo brasileiro de diabetes é de 1987 e a nossa pesquisa seguiu a mesma metodologia empregada pelo IBGE”, afirma Magalhães. “Mas esses resultados são um perfil brasileiro. Nós precisávamos ir além deles e conhecer o perfil dos uberabenses para determinar quais doenças tinham maior prevalência aqui na cidade.”
Assim, entre 2005 e 2007, os pesquisadores se dispuseram a conhecer o perfil da população adulta da cidade (na faixa etária entre 30 e 69 anos), no que se refere a sexo, idade, nível socioeconômico, naturalidade, padrão alimentar, atividade física, tabagismo e doenças mais prevalentes. Em seguida, procuraram determinar os índices de diabetes, hipertensão arterial, obesidade e asma, entre outros indicadores. Deste modo, os médicos poderiam propor ações mais direcionadas para a melhoria da saúde no município. Tendo em vista a importância da iniciativa, o projeto foi aprovado pelo CNPq e pelo Programa de Apoio à Pesquisa (PAPE) da Uniube. Além disso, recebeu o apoio da Roche Diagnóstica e da Prefeitura Municipal. E com a pesquisa ainda em andamento, o grupo de cientistas já chegou a conclusões preocupantes. “O que verificamos foi realmente assustador”, alerta Magalhães.

Os métodos
Mais de setenta alunos de iniciação científica e voluntários dos cursos de Medicina, Odontologia, entre outros, receberam treinamento e acompanhamento de professores da área, até passarem para a pesquisa de campo, que foi determinada através de dados do IBGE sobre os bairros que melhor representam Uberaba. Depois desse levantamento, os estudantes escolheram os entrevistados entre moradores da faixa etária de 30 a 69 anos de idade, homens e mulheres de todos os níveis socioeconômicos, exceto as gestantes. A partir daí, dezenove bairros foram mapeados e as residências visitadas. Segundo Magalhães, é importante lembrar que a metodologia utilizada seguiu um padrão e, por isso, é representativa da cidade.
Durante o período da pesquisa, 1.191 pessoas foram entrevistadas e examinadas detalhadamente em suas casas. A equipe realizou testes como mensuração da pressão arterial, dosagem de glicemia (para verificar a diabetes), cálculo de Índice de Massa Corporal (para observar o sobrepeso) e pico de fluxo expiratório (para identificar asma). Além disso, através de questionários, os pesquisadores obtiveram informações sobre o padrão alimentar e a rotina de atividades físicas das pessoas, além de dados econômicos e sociais das famílias.

Os resultados
Uma das primeiras grandes surpresas para os pesquisadores foi constatar que apenas 37% do total de moradores adultos de Uberaba são naturais da cidade; ou seja, a grande maioria da população daquela faixa etária é composta por pessoas que nasceram em outros lugares. No período retratado, a maior parte (59%) era do sexo feminino, 52,3% tinham trabalho remunerado; 16,6% eram aposentados; 4,1% encontravam-se desempregados e 3,7% estavam afastados por doença. A equipe observou também que a maior parte da população em questão, cerca de 72,6%, possuíam renda mensal familiar abaixo de cinco salários mínimos. Os níveis de escolarização em Uberaba também não eram nada animadores. Entre os adultos, 12% eram analfabetos e 53% possuíam apenas o ensino fundamental. Além disso, 26% possuíam ensino médio e apenas 9% tinham ensino superior. A porcentagem de pós-graduados era praticamente desprezível.
Em relação aos hábitos considerados saudáveis, os pesquisadores constataram que os uberabenses estavam longe de um padrão alimentar ideal. A análise foi feita através de questionários individuais e considerou a ingestão diária de grupos de alimentos como pães, cereais, hortaliças, frutas, leite e derivados; carnes bovina, suína, peixe, frango e ovos; óleo, gorduras e açúcares, de acordo com o recomendado pela pirâmide alimentar. Segundo a pesquisa, apenas 1% da população adulta tinha uma alimentação realmente saudável. Ou seja, a grande maioria tinha uma dieta insuficiente de grãos e cereais (99%); de frutas, hortaliças e leguminosas (82%), assim como de leite e derivados (94%). Por outro lado, a maioria demonstrou um consumo excessivo de óleo vegetal (84%); de sacarose (77%); e de carne (50%). E para piorar, segundo os dados da pesquisa, mais de 80% não realizavam exercícios físicos regulares.
Deste modo, através de centenas de exames médicos, os pesquisadores constataram que 12,7% dos uberabenses eram diabéticos e 20,4% eram pré-diabéticos. Os pesquisadores observaram que 38% desses doentes nem sequer sabiam que estavam com diabetes. Além disso, apenas 25% dos habitantes que já tinham sido diagnosticados estavam controlando a doença com eficácia. Números considerados graves para uma população que consome gordura animal e óleos em quantidades exageradas, come muita carne e poucas frutas e verduras.
Os resultados para a obesidade também foram altos: 18,5% apresentaram obesidade e 36% estavam acima do peso. Mas, se consideramos apenas a obesidade abdominal, ou seja, aquela gordura localizada na barriga, os números são ainda piores: 68,8% das mulheres adultas e 38,87% apresentaram esse tipo de obesidade.
Os números de hipertensão também eram graves: 42,8% da população adulta podia ser considerada hipertensa, e 8,2% estavam no limite. Ou seja, mais da metade da população com mais de 30 anos corria sérios riscos relacionados a esse problema. Os pesquisadores observaram que 35,6% dos hipertensos não sabiam do diagnóstico e apenas 32,7% dos diagnosticados tinham bom controle.
Através dessas amostragens pôde-se verificar os fatores de riscos cardiovasculares, por isso, tabagismo e ingestão de álcool foram pontos-chave da pesquisa. Os números confirmados de quem fumava e consumia álcool diariamente foram baixos, mas o que mais pesou foi a quantidade de pessoas que fumavam e bebiam. A maioria dos problemas de saúde é proveniente desses vícios e agravam-se com o passar do tempo. Não é à toa que os efeitos levaram a altas taxas de hipertensão arterial sistêmica (HAS).

Conclusão
O grupo de pesquisa já conta diversos trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais da área da saúde. Contudo, mais do que uma produção científica, essa pesquisa trouxe novas perspectivas para os problemas observados na população de Uberaba. “O alerta para uma maior atenção à alimentação e aos exercícios físicos é primordial em todas as idades, principalmente na faixa etária analisada, dos 30 aos 69 anos”, salienta a professora Fernanda Magalhães. E não é preciso nenhum sacrifício nem exageros para ter uma boa saúde. O ideal é manter uma dieta adequada, de preferência receitada por um especialista, e, pelo menos, fazer atividades físicas rotineiras, como caminhada e ginástica.

Boca ameaçada
Com tantos resultados preocupantes, outra análise feita pelos estudantes foi o exame bucal. Nessa etapa, a odontóloga e professora da Uniube, Denise Maciel Carvalho, coordenou e acompanhou todos os procedimentos. Alunos do curso de Odontologia e voluntários foram treinados durante um mês para fazer os exames e, assim, visitaram 91 pessoas, sendo 70 com faixa etária de 35 a 44 anos, já entrevistadas anteriormente pela equipe da professora Fernanda Magalhães. A equipe avaliou a incidência de cáries, doenças periodontais (sangramentos, tártaro e bolsa), lesões nas mucosas e existência de próteses.
Pessoas que mantêm uma má qualidade de vida estão mais predispostas a certos problemas por causa dos hábitos alimentares. “Em geral, os programas de prevenção estão mais voltados para as crianças, mas as pessoas se esquecem de que, com o envelhecimento, é preciso redobrar a atenção à saúde bucal”. alerta Denise. Ela explica que o quadro de doença periodontal pode ser agravado também pelo tabagismo. O fumo, ao longo do tempo, causa lesões nas mucosas e perda dos dentes. Logo, percebeu-se nos exames que 89% apresentaram exposição da raiz ou lesões, 60% tinham sangramento e/ou tártaro e os diabéticos foram os que mais perderam dentes devido à cárie. Com relação as próteses, 39% usavam, mas 30% ainda necessitavam de uma.
Mesmo com resultados parciais, já que apenas 39% do total pretendido foi examinado, a conclusão dos estudantes é que os uberabenses cuidam cada vez menos da sua boca, seja com o que ingerem ou como fazem a higiene.


Pirâmide alimentar



Veja a dieta alimentar diária que os médicos indicam:


Legenda:

1- Óleos, gorduras, açúcares e doces -> 1 a 2 porções
2- Carnes e ovos -> 1 a 2 porções
3- Leite e produtos lácteos -> 3 porções
4- Frutas -> 3 a 5 porções
5- Hortaliças > 4 a 5 porções
6- Cereais, pães, tabérculos e raízes > 5 a 9 porções


Conheça os dados da pesquisa

Análise considerou a população adulta, na faixa etária entre 30 e 69 anos

Diabetes
* 12,7% da população adulta de Uberaba têm diabetes e 20,4% são pré-diabéticos * Dentre os diabéticos, 38% não sabiam que tinham a doença * Apenas 25% das pessoas com diagnóstico prévio de diabetes têm feito um controle efetivo do nível de glicemia

Obesidade
* 18,5% da população de Uberaba é obesa e 36% apresentam sobrepeso * O índice de obesidade abdominal (aquela gordura localizada apenas na cintura) no sexo feminino foi de 68,8% e no sexo masculino, de 38,8%

Hipertensão
42,8% dos uberabenses adultos são hipertensos * Entre os hipertensos, 35,6% não sabiam do diagnóstico * Daqueles que já haviam sido diagnosticados, apenas 32,7% tinham bom controle da pressão arterial

Dados gerais
* A maior parte da população adulta (59%) é do sexo feminino. * 74,71% possuem renda mensal familiar abaixo de 5 salários mínimos. *53% possuem ensino fundamental e 11,7% são analfabetos. * 52,3% têm trabalho remunerado; 16,6% são aposentados; 4,1% encontravam-se desempregados e 3,7% afastados por doença. * Apenas 37% são naturais de Uberaba

Alimentação
A população adulta tem um padrão alimentar inadequado na maioria dos casos: • Insuficiente ingestão de grãos e cereais (99%) • Consumo excessivo de óleo vegetal (84%) • Grande consumo de sacarose (77%) • Consumo insuficiente de frutas, hortaliças e leguminosas (82%) • Consumo excessivo de carne (50%) • Consumo insuficiente de lácteos (94%) • Consumo associado de gordura animal (15%)


Tabagismo e consumo de álcool
* Os indivíduos adultos do município de Uberaba, em sua grande maioria (93,9%) ingerem álcool no máximo uma vez por semana, mostrando baixa prevalência de alcoolismo. * 23% fumam e 43% já fumaram em algum período da vida.

31 de julho de 2007

Terceira matéria do Revela


Um caminho de terras e homens


Professores da Uniube percorrem a Argentina de bicicleta e descobrem uma nova América Latina


Graziella Tavares
4° período de Jornalismo

Imagine dois professores da Uniube fazendo uma viagem para a Argentina de bicicleta, encarando mais de 3.000 km de estrada, desde Foz do Iguaçu até El Paso de Jama, fronteira com o Chile, tudo feito em apenas 30 dias. Nada comum para dois professores. Mas o que os destaca é que além de amigos, esses dois são apaixonados por História e Turismo. Então, Therbio e Tássio agregaram essas duas grandespaixões, tanto profissional como pessoal, na mesma bagagem e partiram para uma viagem emocionante, onde vários "imprevistos" superaram suas expectativas.
Therbio Felipe Moraes, nascido em Pelotas, Rio Grande do Sul, é professor do Curso de Turismo da Uniube. O uberabense Tássio Franchi é mestre em História e atualmente é professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA). Entrevistá-los, porém, seria quase impossível, pois a distância fez com que Tássio só pudesse ser contatado por e-mail. Tão diferente quanto a viagem que fizeram.
Mas por que a Argentina? E de bicicletas? A resposta foi imediata. "Somos apaixonados pela América Latina e por bikes. Resolvemos aliar as duas coisas ligando as águas de Foz do Iguaçu com as águas do Pacífico", responde Therbio. No seu mestrado,
Tássio estudou os movimentos sociais latino-americanos com a mídia, História do Tempo Presente, História da América e História Contemporânea. Daí o interesse pela Argentina.
Mesmo com todas as experiências anteriores e as viagens que já haviam feito, Therbio e
Tássio não conheciam o país. E andar por umas das estradas mais bonitas do mundo — a Rota 12, que vai desde Foz do Iguaçu até São Pedro de Atacama, no Chile — seria uma aventura e tanto para os brasileiros. Mas como eles mesmos disseram, o caminho se encarregou de mostrar a direção.

A preparação e a saída
Demorou um mês até que os professores decidissem o caminho que percorreriam. Inicialmente montaram 17 roteiros diferentes, mas eram os mesmos trajetos que os turistas faziam, então não queriam repeti-los. "É que não queríamos conhecer a fronteira da Argentina e sim, o interior do país", explica Tássio. Para aproveitar ao máximo toda a paisagem eles pensaram desde o preparo físico até a organização da viagem, por onde passariam e qual equipamento fotográfico era ideal, além de pesquisar vários pontos logísticos.
Depois de receber apoio de fisioterapeutas, nutricionistas e cuidados físicos, os professores compraram equipamentos básicos, como cantis, barracas, mochilas (chamadas de alforges), isolantes térmicos, medicamentos, um fogareiro, pequenas peças de reposição para as bicicletas e material fotográfico. Eram quase 40 kg em cada um dos alforges, sendo 10 kg só de câmeras, filmes e outros equipamentos. Mas um "detalhe" preocupava os amigos. Therbio é epiléptico e Tássio é alérgico a tudo. Seria um grande desafio, mas a esperança era de que nada de mal acontecesse. "A idéia surgiu de maneira inóspita. Eu e o Tássio resolvemos ousar. Nós praticamos esportes, mas às vezes, a vida profissional exige tanto de nós, que precisamos parar de trabalhar e aproveitar melhor a vida", diz Therbio. Feito o check-up geral, eles estavam prontos para colocar o pé na estrada. Assim, foram para Florianópolis no dia 20 de dezembro de 2006 e saíram de bicicleta para a maior aventura de suas vidas.
Eles não levaram nenhum guia, a não ser um GPS (que perdeu-se no caminho) e viajaram seguindo o próprio espírito de aventura. Por isso era importante que se estabelecesse um diálogo com as pessoas que passassem por eles. Dessa forma, conseguiam comida, moradia por alguns dias e novas amizades. Não foi à toa que dormiram em postos de gasolina, garagens. E assim tomavam banho e comiam. Levaram um pouco de dinheiro, quase R$1.000. O restante seria pago com cartão de crédito. Mas somente em território argentino eles descobriram que os cartões não funcionavam porque os terminais não estavam interligados aos do Brasil. Na moeda argentina, o que tinham no bolso, chegava a 1.800 pesos, o suficiente para as necessidades básicas. Na idéia inicial, os dois pretendiam ir até o Chile, mas ficaram a 300 km do destino, sem dinheiro e sem forças. O jeito era aproveitar ao máximo cada parada.

O caminho
Em todos os lugares por onde passaram os climas oscilavam violentamente. A cada 12 horas estavam sujeitos a um novo ambiente. Fazia calor, depois chovia e assim foi por toda a viagem. OS professores chegaram a ter queimaduras na pele e infecções respiratórias, Tássio deve uma disenteria durante os primeiros dias de viagem por conta de um "suculento oleoso bife de parmegiana" que comeu no caminho de El Alcazar, como ele mesmo diz.
A famosa Rota 12 ajudou a descobrir uma paisagem de vilas pitorescas e capelas históricas. "Não tenho outra palavra para resumir, senão apaixonante", emociona-se Therbio ao falar das pequenas cidades que conheceram à beira da estrada. San Ignácio, Ituzaingó (onde as casas não tinham muro, bem no meio do Pantanal), o Pucará de Tilcará e a praça de Humauaca foram os lugares que mais impressionaram Tássio. A primeira parada foi em um posto de gasolina e, como era noite de Natal, a cidade de Porto Esperanza estava toda fechada. O jeito foi improvisar. No dia seguinte foram muito bem recebidos pelos argentinos que ofereceram pratos típicos e frutas frescas. Aliás, um costume que existe no país é colocar as frutas na vertical formando grandes mosaicos que podem ser vistos ao longe. "Eles não mediram esforços para nos auxiliar quando precisamos, para serem hospitaleiros e companheiros. Foram tantas as passagens onde esta hos
pitalidade e o calor humano ficaram claros que seria injusto escolher uma delas".
Depois de 6 a 8 horas pedalando, o cansaço incomodava e eram obrigados a parar em campings, que por sinal eram bem estruturados; além da área para barracas,
ofereciam alojamentos coletivos e quartos ou chalés individuais. No dia 31, Tássio e Therbio foram a um balneário em Ituzaingó, às margens do rio Paraná, e conheceram o señor Miguel que os convidou para passar o Reveillon com sua família. Mas os professores ficaram desesperados porque levaram apenas um agasalho e bermudas: não poderiam ir a casa do anfitrião vestidos daquele jeito. Então pegaram suas roupas sujas e lavaram ali mesmo, perto do balneário, depois passaram todas com um ferro para que secassem até a noite. Compraram algumas garrafas de vinho e foram para a casa do señor Miguel. Passaram a noite conversando e, quando iam embora, foram convidados a voltar na hora do almoço. Passar o primeiro dia do ano na casa de pessoas que nunca viram antes, mas que os acolheram com toda a atenção, era muito gratificante.


Uma viagem para ficar na história


Entre montanhas, desfiladeiros e povoados, professores colecionaram amigos e aventuras


Expostos à extrema aridez do caminho, os professores nem pensavam na possibilidade de sofrer um assalto. Tinham muitos equipamentos caros, como uma câmera especial da Yashica, com lente objetiva de 700 mm e tudo mais. Mas nada aconteceu. Só perderam o GPS, por distração, na única vez que andaram de ônibus. E Therbio ainda diz que ele não fez muita falta. “O mapa estava sempre errado. Íamos parar num lugar totalmente diferente do que pensávamos. Foi até melhor, porque quando alguma coisa dava errado, ou quando surgia um problema, sempre outra coisa dava certo ou havia um apoio. Era incrível.”
Um desses apoios foi o señor Jimenéz. Com as temperaturas oscilantes e as chuvas constantes, os dois tomavam água em qualquer lugar. Isso afetou o organismo de Tássio, que foi “salvo” pelo chá de arenco do señor Rimenez, uma bebida forte usada para curar as enfermidades do estômago, feito com uma planta muito amarga, típica da região. “Mas é tiro e queda. Fiquei bom em 5 dias”, lembra Tássio. Depois do terceiro dia em Ituzaingó eles decidiram ir embora. Mas sempre que estavam saindo alguém os convidava para ficar para o almoço, aí estendiam até o jantar, e como já havia escurecido, o jeito era esperar até amanhecer.
No quinto dia saíram sem avisar. Enquanto deixavam a cidade, a emoção tomou conta dos professores. Depois de uma hora pedalando, eles se deram conta do quanto aquilo havia tocado os seus corações. “Foi nesse momento que eu percebi que o caminho transformou nossa irmandade (a amizade com o Tássio) em eternidade. Demos muito mais valor às coisas simples. Tiramos velhas mágoas, dores antigas dos nossos corações e nos sentimos aliviados por isso”, conta Therbio. Por um instante, lembraram das construções jesuíticas, datadas de 1691, em San Ignácio. A emoção de Tássio ao constatar que todos os seus estudos sobre o lugar estavam ali, diante de seus olhos, era incomparável. “É impossível para mim não pensar em todo o jogo de interesses políticos que levaram à destruição das misiones no final do século XVIII”, emociona-se ao falar das ruínas de uma das maiores reduciones jesuíticas, San Ignácio Mini. Nem mesmo fotos explicaram esse momento.

Purmamarca: a união de todos os povos
Depois das emoções vividas em Ituzaingó, era hora de conhecer outros lugares. No caminho os professores encontram várias cobras e outros animais à beira da estrada. Era impressionante a quantidade de animais selvagens. “Uma coisa que nos impressionou na Rota 12, que seguimos saindo de Ituzaingó até Corrientes, foi a quantidade de cobras e jacarés mortos na estrada. O número era incontável e os tamanhos variavam”, conta Tássio. Mais adiante eles encontraram uma jibóia viva no meio da estrada e tentaram levá-la de volta para o chaco, lugar onde há água suja e estagnada. “Como essa espécie de cobra não tem veneno, mas uma mordida dói muito, peguei-a pela cauda e a arrastei de volta ao banhado enquanto Therbio fotografava tudo. Essa é uma faceta que só uma viagem de bicicleta pode te mostrar, pois, de ônibus ou carro jamais veríamos este belo animal tão de perto!” Tão impressionante também era o número de turistas que paravam para tirar foto com os professores, que viraram atração turística. As pessoas paravam seus carros, saíam com máquinas digitais e garrafas com chá mate para oferecer a eles enquanto tiravam fotos. Seguindo viagem, viram a famosa “neve eterna” (neve no pico das montanhas). Nas descidas, a sensação térmica era de 5 graus positivos, a 4.170 metros de altura. Therbio tem pânico de altura, mas não resistiu às grandes montanhas e subiu nas mais altas. Eles pararam para tomar café em Corrientes e, chegando em Purmamarca, puderam apreciar paisagens maravilhosas e comidas deliciosas. O que mais comiam era carne de lhama (bem parecida com carne de tatu e lagarto) batata frita, tolos (sopa de milho), pamonha (bem típica por lá) e frutas. Os pratos não saíam mais de quatro reais e os vinhos também. “Realmente é muito barato fazer uma refeição apetitosa na Argentina”, confirma Therbio. Para quem está cansado, qualquer lugar serve para descansar. Mas havia tantas coisas para serem vistas em Purmamarca que era impossível parar. As manifestações religiosas e culturais foram marcantes. Os professores viram igrejas cristãs com abóbadas maçônicas, feiras de tecidos, ervas medicinais, tudo vendido em praças, exposto em barracas improvisadas, como nas feiras livres do nosso país. Depois encontraram pessoas do mundo todo, sentados nos bancos, no chão, compartilhando tudo o que tinham, comida, música e alegria.
Cuba, França, Grécia, Itália, Espanha e tantos outros países juntos na melodia dos violões e na música de Chico César. Foi assim que começou uma grande festa ao ar livre em Purmamarca, comandada por Tássio e Therbio. Os professores pegaram um violão e as pessoas começaram a se aglomerar em volta da praça, cantando e acompanhando as músicas. Quando deram conta, perceberam que estavam reunidos com mais de 250 pessoas, nativos e estrangeiros, todos espalhados pelo local. Ali, eles puderam dividir, além das experiências, grandes histórias de vida.

A volta
Saindo de Purmamarca seguiram para Jujuy, Salta e, depois de 140 km percorridos de uma só vez, ficaram totalmente esgotados. Era hora de voltar, estavam sem dinheiro e a energia que tinham era suficiente apenas para entrar em um ônibus, direto para Florianópolis, e descansar. Vinte e quatro horas de viagem e eles finalmente estavam em solo brasileiro. Passaram na casa da família de Therbio, em Balneário Camburiú, para comer uma picanha e voltaram de carro para Uberaba.
Os amigos trouxeram da Argentina mais de 3 mil fotos digitais e analógicas, um vídeo com vinte seis horas de gravação e muitas lembranças. E depois de tanta coisa presenciada, os professores não podiam deixar de afirmar que a viagem serviu como um grande aprendizado. “Essa viagem, acima de tudo, foi uma prova de humanidade.” Tássio ainda diz da importância de conhecer outras culturas de perto, que, no caso deles, foi possível através do cicloturismo. “Mas não importa se você vai viajar de bicicleta ou de avião... importa que, esteja onde estiver, você saiba reconhecer e respeitar a cultura do outro. Que saiba interagir e trocar experiências de forma horizontal, franca e despretensiosa. Acredito que só poderemos construir um mundo onde caibam muitos no dia que conhecermos e respeitarmos estes muitos mundos que existem, estejam eles na Argentina ou na zona rural próxima a nossas cidades. E não tenho dúvidas que a viagem de bicicleta é um ótimo instrumento de interação”, finaliza Tássio. (Graziella Tavares)


BLOG DA VIAGEM

Um aluno de Therbio, André , resolveu criar um blog para registrar os melhores momentos da viagem. Os professores, sempre que podiam e que tinham acesso à Internet, colocavam fotos e comentários dos lugares por onde passavam. Mas isso era raro, pois na Argentina o acesso é caro e lento. Enquanto Tássio escrevia, Therbio visitava as montanhas e as várias paisagens. Foram apenas dez postagens e uma comunidade no Orkut, mas o suficiente para eles manterem contato, até hoje, com mais de 180 pessoas, que se tornam amigas dos professores durante o caminho. Quem quiser conferir com mais detalhes é só clicar: http://deterrasehomens.blogspot.com e http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=25646886.

CICLOTURISMO

O cicloturismo surgiu no final da Segunda Guerra Mundial. É um estilo diferente de viagem para turistas exigentes, que gostam de estar em contato com a natureza, apreciar a paisagem e se integrar com o ambiente. Existem vários sites de clubes de cicloturismo com várias informações sobre roteiros, equipamentos necessários, circuitos e histórias de quem já rodou o mundo de bicicleta.
Confira nos endereços eletrônicos:
http://www.clubedecicloturismo.com.br/,
http://www.trilhaseaventuras.com.br/atividades/superdica.asp?id_atividade=5&id=101 e http://www.escoladebicicleta.com.br/cicloturismo.html

15 de junho de 2007

Segunda matéria para o Revela





Esmar e os bilhetes






Uma profissão simples e digna torna o vendedor do centro de Uberaba uma figura pública











Graziella Tavares
3° período de Jornalismo

Uberaba é uma cidade cheia de figuras populares. Todos com uma peculiaridade. Algumas vezes, o que faz uma pessoa tornar-se conhecida na sua comunidade é o carisma e a humildade que transmite. Este é o caso do nosso próximo personagem, o vendedor de bilhetes da Loteria Federal, Esmar Gonçalves Beirito, o popular “vendedor da porta do Banco do Brasil”.
Quem passa pelo centro da cidade, todos os dias, não pode deixar de notar que seu Esmar está sempre ali sentado nas escadas do banco com seus bilhetes. Também não é de admirar: seu ponto de vendas é bem estratégico. São vinte e três anos trabalhando nesse mesmo lugar e acompanhando as mudanças no comércio, na sociedade e até na estrutura da cidade. A conversa ajuda a descobrir um homem de 52 anos de idade, totalmente ativo e que jamais teve outra profissão a não ser a de vendedor de loteria. E com muito orgulho.
Esmar é aposentado e completa sua renda mensal com as vendas. Mesmo com um problema físico no braço e sem uma das pernas, ele afirma que nada o atrapalha. “Acostumei com esse trabalho. Venho pra cá de carro com um vizinho lá pelas nove horas da manhã e, depois, volto pra casa com ele por volta das oito da noite. É bom. Não reclamo de nada, mesmo ficando aqui todo dia.” O vendedor mora sozinho no bairro Fabrício. Nunca se casou e tem apenas um parente na cidade, o seu irmão. Nasceu em Conceição das Alagoas e veio para Uberaba ainda jovem. Desde então, dedica-se ao que faz.
Apesar do jeito reservado e desconfiado, Esmar conquistou a simpatia das pessoas. Seus clientes são fiéis e ele ressalta que a população gosta de apostar na sorte; por isso é que vende tantos bilhetes. Todo santo dia um senhor chamado Reynildo passa pelo centro às cinco e meia da tarde e sempre compra seus bilhetes. Reynildo acredita que o vendedor é um homem de confiança, mas em compensação nunca trouxe sorte no jogo. “Ele é o maior pé frio. Eu aposto sempre na loteria, mas se fosse depender dele, nunca ganharia. E o pior é que o cara só tem um dos pés (risos)”. Os dois riem do comentário enquanto ele paga mais um bilhete. “Conheço esse camarada há muitos anos e posso dizer, com certeza, que é uma ‘figura’ mesmo esse Esmar”.

Horários “sagrados”
Mesmo aos sábados, seu Esmar fica no centro até às seis horas. Seus horários são sagrados. Nem um minuto a mais nem a menos. “Olha, o pessoal só vai me encontrar aqui nesse horário: de segunda a sexta, das nove às oito; e aos sábados, das nove às seis da tarde. Depois vou pra casa e só no outro dia”. Ele faz questão de dizer que nunca foi assaltado e nem mesmo sofreu qualquer tipo de preconceito ou agressão. Tanto os funcionários do banco quanto aqueles que fazem sempre o mesmo caminho pelo centro afirmam que o vendedor nunca trouxe problemas para ninguém. “Ele está trabalhando como qualquer pessoa. Não importa onde ele fica ou o que vende. O importante é que é um homem honesto e supera todas as dificuldades. Realmente é uma figura popular da nossa cidade”, confirma a aposentada Euripa Gomes, que trabalhou durante muito tempo no centro.
Além do caráter, o que destaca nossa personagem é a força de vontade que Esmar tem para sair de casa, todos os dias, e ganhar a vida de um jeito simples. Também é isso que faz uma figura pública: humildade e dignidade, que não faltam em Esmar.

22 de maio de 2007

Nova fase do nosso Jornal Revelação


Competência no auge

Nova fase do jornal Revelação propõem um jornalismo inovador com discussões a cerca do próprio cotidiano


O Novo Jornalismo está em recuperação. Nós estudantes do curso de Comunicação, mudamos de estratégia, motivados pela vontade incrível de melhora nas nossas vidas jornalísticas. Sim. Queríamos ir além e proporcionar mais visibilidade e aplicabilidade aos nossos textos. E estamos conseguindo. Houve avanços na diagramação, fotos e legendas bem exploradas e textos dispostos de forma leve e objetiva. Não seria suficiente sem matérias realmente interessantes e de cunho, não apenas social, mas pessoal também. Leitores que encontrassem no jornal um jeito diferente de despertar suas idéias para fatos cotidianos, muitas vezes, velados por nossa acomodação, era o que pensávamos para essa primeira edição. Mas o quê? Cotidiano, social, fatos, leitores, novo formato...pareceu balela à primeira vista. Qualquer um faria, ou melhor, tentaria isso (como muitos já tentaram). Mas um detalhe não deixou a desejar: estamos prontos para encarar desafios além da sala de aula. Criamos um vínculo com o "velho novo jornalismo", acrescentamos algumas pitadas de personalidade e senso crítico e, enfim, demos um retoque final nos nossos trabalhos. Aí o resultado que já pode ser observado, essa semana, no ponto de distribuição mais próximo. Até que enfim! A mudança interna trouxe grandes possibilidades para o sucesso do nosso jornal. Mas o que realmente mudou foi a nossa capacidade de atentar para novos olhares e sobre o que queremos para o futuro. Seremos jornalistas mal pagos pelo resto de nossas vidas, enfurnados em redações com um bando de editores mal humorados ou ainda temos chances de reconhecimento pelo que fazemos agora? A pergunta é só uma. As respostas é que soam como trompetes enfurecidos. O resultado, também, é só um. Então, confiram e aproveitem.


Primeira matéria para o Revela

Curso de Comunicação e ICBC firmam parceria


Graziella Tavares
3º período de Jornalismo


O Instituto de Cegos do Brasil Central (ICBC) é o novo parceiro do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba (Uniube). Estudantes de Jornalismo, orientados por professores do curso, criaram uma assessoria de comunicação para a instituição e fizeram a proposta de um novo tipo de estágio, vinculado a um trabalho voluntário. O objetivo principal da parceria é favorecer a interação entre o Instituto e a sociedade, informando a cidade sobre as atividades realizadas há tantos anos.
Em reunião realizada no começo do mês de abril, o presidente do ICBC, Wilson Adriano, e a coordenação do curso de Comunicação discutiram sobre essa proposta de estágio e o apoio da universidade nos seus novos projetos. A iniciativa foi bem aceita e quatro alunos já começaram a desenvolver a assessoria.
Para o coordenador do curso, Raul Osório, essa é uma oportunidade para que os alunos se preparem para o mercado de trabalho e adquiram experiência — tanto na área que atuarão, como no voluntariado, atualmente uma das práticas profissionais mais bem aceitas em um currículo. Mônica de Freitas, uma das estagiárias do projeto, vê a participação dos estudantes no Instituto como um investimento futuro. "A convivência com pessoas tão ativas e interessantes, que já pudemos conhecer, ajudará, com certeza, nessa nossa fase de experimentação. Podemos trabalhar e inovar para que a instituição seja reconhecida por sua cidade. E isso é gratificante."
Os estagiários já visitaram o ICBC e puderam conhecer toda a sua estrutura e as pessoas que fazem do trabalho voluntário um ato profissional e pessoal. Como é o caso do novo diretor de marketing, Fernando Athayde, que já trabalhou na DPZ do Rio de Janeiro e na Rede Globo e agora aposta no Instituto. "Precisamos explorar mais a história, definir e apresentar a marca da instituição." Para começar, foram propostos a criação de informativo do ICBC; a realização de uma exposição de fotos e a reformulação do site na Internet.
O presidente do Instituto acredita na possibilidade de futuros projetos que ajudarão a fortalecer a união entre a instituição e a universidade. "Nós queremos que a Uniube seja mais uma parceira no nosso caminho que é voltado para a construção de um ICBC cada vez melhor", reforçou Wilson. As duas instituições ganham com a parceria, mas quem agradece são aqueles que cresceram com o Instituto: os seus usuários.

27 de abril de 2007

Acabei com os comentários...pra começar outros!!!

Acabam-se os comentários das aulas e começam os verdadeiros... Um dos muitos que virão


Mais uma vez (e já estamos cansados!) ouvimos a "clemência" da Câmara Municipal por nossa participação na decisão de termos ou não uma penitenciária federal na cidade. O pior disso tudo é a incoerência nessa história toda. Vejamos:

* Em publicação no JM, de ontem (15 de abril) as declarações do presidente da Câmara, Lourival dos Santos, do secretário executivo e também "colunista" do jornal citado, Wellington Cardoso, e finalmente, do vereador/delegado, Heli Andrade, o Grilo, são totalmente contraditórias. Eu, particularmente, acredito que assim como a jornalista Daniela Brito, autora dessas três matérias para o JM Online, se confundiu com as respostas dos entrevistados ou mesmo perdeu o rumo do texto (fica aberto à discussões a partir desse momento), nós também estamos numa enrascada. O que esse tal Conselho de Segurança Pública quer é, na verdade, manter o povo voltado para as discussões, enquanto eles decidem o que fazer. "O Conselho não está com olhos voltados para o plebiscito e sim para a incumbência dada pelo Executivo de se posicionar sobre a instalação da penitenciária", diz o próprio secretário da entidade. Pois é. Propuseram um plebiscito e agora tentam derrubá-lo porque não interessa a opinião do povo, apenas o que for decidido lá, nas reuniões que são abertas ao público. Vai entender!
* Nessa mesma publicação, o vereador Grilo afirma que é contra o plebiscito, assim como o presidente Lourival, caso o Conselho discorde da proposta da penitenciária. Mas, o autor da proposta do plebiscito é o próprio vereador. Como assim? Depois ele faz várias que acabam confundindo quem leu a reportagem. Ou seja, esse plebiscito é só mais uma desculpa.

* Outra novidade é o site www.dentrooufora.com.br. Ele propõem a votação e um espaço para o internauta dar a sua opinião sobre a vinda da penitenciária para Uberaba. O mais absurdo é que os inventores da página (desconhecidos, por sinal) promovem a campanha "Adote um outdoor" pela bagatela de R$ 240,00. Além disso, o telefone disponível para as doações não funciona. Boa idéia!

Não somos bobos. Mas percebemos os erros e mesmo assim somos cúmplices dessa sem vergonhice e somos enganados a cada dia pela falsa ilusão de que podemos, ainda, dar palpite na nossa própria segurança. Caros amigos, eu lhes digo: não são apenas os veículos de comunicação de Uberaba que deixam a desejar. O problema vem da falta de interesse das próprias autoridades e do pove vergonha na cara. Contudo, esse papinho de "vamos nos unir e lutar pelos nossos direitos em prol da paz na nossa cidade" é furada. Ninguém vai se mexer por causa disso. O que proponho, então? Pagar pra ver. Quem sabe assim, no susto, as coisas melhoram e o povo acorda! Na pior das hipóteses, elas só vão piorar mais um pouco. E vão perguntar: e daí?